segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma monografia bacana primeira parte!

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MOTRICIDADE INFANTIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MOTRICIDADE INFANTIL

CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DA GINÁSTICA OLÍMPICA COMO ESPORTE DE BASE PARA A AQUISIÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS

Autora:Lisiane Lewis Xerxenevsky Bergue
Professora Orientadora: Nádia Valentini


No mundo civilizado em que vivemos onde há cada vez menos espaços para nos movimentarmos, limitados muitas vezes por apartamentos, grades e violência nas ruas, as crianças estão se tornando carentes de movimentos. Além da falta de espaço, outro fator que contribui com a inatividade das crianças são as facilidades que a tecnologia nos proporciona com computadores, elevadores e controles remotos.
Alguns autores, como Marcelino (1990, apud DARIDO & FARINHA, 1995), salientam que a infância deve ser marcada pela falta de compromisso e obrigações. Porém, no mesmo trabalho, Bento (1991) afirma que o problema de uma sobrecarga em uma atividade física é menos perigoso do que a falta de exigências e preocupação excessiva em querer proteger a criança. Vargas Neto (1999) aponta que a falta de estímulos aos jogos infantis, bem como menor esforço físico e espaço diminuído, contribui para a “degeneração hipocinética”. Esta doença é caracterizada pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas. O mesmo autor salienta ainda que estímulos inadequados tornam as crianças preguiçosas e acomodadas ocasionando deformações da coluna vertebral.
A prática esportiva sistemática pode contribuir positivamente para o desenvolvimento do ser humano. Fisicamente observam-se benefícios como a melhoria da aptidão física relacionada à saúde e o desenvolvimento das capacidades físicas, fundamentais para a formação de futuros atletas. Nos aspectos psicológicos e sociais podem ser observados benefícios como a cooperação, a socialização, a melhoria da auto-estima e a disciplina. No entanto esta prática sistemática apresenta-se ineficiente dentro da escola.
No trabalho de Guedes & Guedes (1997) os autores analisaram, entre outros propósitos, o nível de intensidade dos esforços oferecidos durante as aulas de educação física para relacionar com objetivos direcionados à promoção da saúde. O estudo foi realizado em Londrina, Paraná, em 15 diferentes escolas utilizando-se como instrumento a observação direta. A conclusão foi de que se perde tempo excessivo na organização e transição das atividades, o que ocasiona poucas oportunidades para a participação efetiva em atividades que resultem em ganhos no desenvolvimento e aprimoramento da aptidão física. Neste sentido Valentini (2002) afirma que se crianças e jovens não participarem de atividades físicas vigorosas durante esta fase, que produzam ganhos efetivos na aptidão física ou otimização das habilidades motoras esportivas, não irão incorporar a prática esportiva na vida adulta.
Somam-se ainda outros estudos que corroboram o de Guedes & Guedes (1997) concluindo que estudantes de diversas faixas etárias, inclusive adultos, na sua maioria não atingem níveis maduros de desenvolvimento nas habilidades motoras fundamentais (PELLEGRINI & CATUZZO, 1991; MANOEL, 1994; ISAYAMA E GALLARDO, 1998; SURDI & KREBS, 1999; COPETTI, 2000; ZANON & ROCHA, 2000).
A não aquisição de habilidades motoras fundamentais pode acarretar sérios problemas na aquisição de habilidades mais específicas e importantes para o dia-a-dia (MANOEL, 1994). A educação física escolar tem grande relevância no desenvolvimento destas habilidades podendo ser auxiliada por uma modalidade que desenvolve uma gama de habilidades e capacidades motoras, como por exemplo, a ginástica olímpica (GO).
A GO é considerada como esporte de base em muitos países como por exemplo a Alemanha, berço deste esporte. Para Leguet (1987) seus fundamentos são ações motoras básicas para o desenvolvimento humano podendo ser praticada por crianças a partir de dois anos de idade em escolas, academias, clubes e universidades (SCHELEGEL & DUNN, 2001). Esta modalidade traz benefícios no desenvolvimento motor de diversas habilidades e proporciona aos seus praticantes situações diferenciadas do seu cotidiano como rolar, saltar, girar no ar com diferentes eixos de rotação, equilibrar-se, pendurar-se e balançar-se. Somando-se a uma prática variada dentro da GO, pode-se obter ganhos significativos no desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais sendo um “trampolim” para o aprimoramento de habilidades específicas relacionadas ao esporte.

1.1) Justificativa

A GO pode ser implementada como um meio facilitador de desenvolvimento de diversas capacidades e melhoria da aptidão física. Um programa de GO diversificado pode igualmente auxiliar no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais.
Diversos treinadores de GO ressaltam a facilidade com que as atletas desta modalidade esportiva se movimentam. Dentro de um ginásio de ginástica é fácil verificar que se locomovem e se equilibram com adequação, o que também é observado nas brincadeiras de roda, com e sem bola, onde se pode admirar a noção viso-motora e espaço-temporal das ginastas.
Quando se misturam atletas e não-atletas nas aulas de educação física fica mais visível a diferença entre um grupo e outro. Os ginastas conseguem se expressar acima dos padrões esperados para qualquer atividade. Eles tornam-se “...os goleadores em jogos de futebol, os cestinhas no basquete, os medalistas no atletismo e em muitas outras modalidades esportivas...” (NISTA-PICCOLO, 2005, p. 30).
Foi com base na literatura e em anos de observação que surgiu a motivação para investigar as habilidades motoras fundamentais de atletas de GO. Assim, o tema central deste trabalho pode ser sintetizado na questão: será que as ginastas possuem níveis de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais similares aos dos estudantes brasileiros?

1.2) Por que avaliar?

Avaliar é imprescindível em qualquer nível de atividade seja em escolares, praticantes de qualquer modalidade esportiva, iniciação à competição ou alto rendimento. É através dela que observa-se e analisa-se aspectos como o nível de desenvolvimento em que se encontram os alunos. Além disso, é uma maneira de motivá-los e ainda uma forma de verificar a consistência do trabalho de técnicos e professores. Com base nos resultados obtidos em diferentes avaliações pode-se fazer ajustes pertinentes para um melhor desenvolvimento, sendo os instrumentos utilizados bem como os critérios que serão adotados diferentes em cada contexto.
O processo avaliativo, dentro da ginástica olímpica se dá basicamente em duas direções: a avaliação física e a avaliação técnica. O aspecto motor, referente às habilidades motoras fundamentais, não é em geral avaliado.



sábado, 6 de junho de 2009

Intervenção no Autismo: Método TEACCH


Treatment and Education of Autistic and Comunication Handicapped Children- TEACCH (Lord & Schopler, 1994) é um programa que foi desenvolvido na Universidade da Carolina do Norte e é utilizado no mundo todo. Esse programa apresenta um ambiente estruturado para facilitar aquisições de habilidades e busca o funcionamento independente dos participantes (Dawson & Osterling, 1997).

O programa segue três princípios básicos: ambiente estruturado, comunicação alternativa e programa educacional individualizado. A intervenção é realizada em pequenos grupos, com professores com conhecimento e prática na intervenção com crianças autistas. Os professores são treinados para atuar de forma generalista intervindo com o objetivo de proporcionar desenvolvimento e reduzir comportamentos desafiadores. O espaço físico da aula é organizado de forma a ter poucos objetos e ser previsível reduzindo a ansiedade das crianças (Osbourn & Scott, 2004, Panerai, Ferrante & Zingale, 2002, Dawson & Osterling 1997). Esses cuidados são importantes para que a criança seja capaz de se concentrar e não se engaje em comportamentos que dificultem seu desenvolvimento e causem sofrimento. Os professores fazem uso de comunicação alternativa com cada criança de acordo com o seu desenvolvimento: fala, sinais, figuras, palavras escritas. As atividades são individualizadas, claras e objetivas propostas de acordo com a capacidade da criança (Panerai, Ferrante & Zingale, 2002). Para estimular a independência a criança tem conhecimento de toda a rotina de como será realizada a aula, da ordem de realização das tarefas, bem como o início e fim das atividades por apoio visual. São utilizados quadrados que sinalizam o início e fim das atividades uma vez que são marcados (Dawson & Osterling, 1997). Cada criança tem sua rotina que fica a vista para que ela esteja ciente do que vai acontecer em cada etapa da aula (Panerai, Ferrante & Zingale, 2002).

A aquisição de habilidades é feita em uma estrutura organizada, previsível, com poucas distrações, em função disso uma vez que a criança conquista determinada habilidade ela é ensinada utilizar em ambientes progressivamente menos estruturados. A criança gradualmente recebe menos apoio dos adultos para realizar as tarefas. O programa tem a característica de promover o desenvolvimento do funcionamento independente e trabalha dentro das possibilidades das crianças (Dawson & Osterling, 1997).

O método TEACCH parece ser mais eficiente do que um tratamento tradicional. Em um estudo comparando um tratamento tradicional (crianças freqüentavam escolas regulares e tinham um professor de apoio conforme a lei italiana) com o TEACCH. Os participantes foram 16 crianças, 8 grupo intervenção, 8 grupo controle, pareadas por gênero idade cronológica e mental. As crianças do grupo experimental e controle foram avaliadas no início e término de um ano através do Vineland Adptative Bahaviour Scale -VABS e Psycoeducationl Profile Revised – PEPR. O PEPR demonstrou as crianças do grupo experimental foram significativamente diferentes e superiores que o grupo controle na imitação, percepção, habilidades motoras amplas, coordenação olho-mão, performance cognitiva. Já os resultados da comparação do pré para o pós teste do VABS demonstrou que apenas as AVD pessoais melhoraram significativamente no grupo experimental. O total das AVDS apresentou melhoras significativas em ambos os grupos controle e experimental. A socialização também foi significativamente diferente e superior no grupo controle (Perenai, Ferrante & Zingale, 2002).

Outro estudo com crianças chinesas também apresentou resultados positivos. O grupo experimental recebeu uma intervenção baseada no TEACCH e demonstrou resultado significativamente diferentes e superiores ao grupo controle após seis meses nos seguintes parâmetros do PEPR: Percepção, motricidade ampla e fina, atividades de vida diária. Foram encontrados resultados significativos e superiores para o grupo experimental quando comparado com grupo controle no funcionamento social adaptativo avaliado através do Hong Kong Based Adptive Behaviour Scales (HKBABS; Sparrow, Balla, & Cicchetti, 1984). A comparação do grupo experimental no pré para o pós teste demonstrou diferenças significativas e positivas na imitação, percepção, habilidades motoras amplas e finas, coordenação olho-mão, performance cognitiva e verbal, escores do PEPR, Merril Palmer escores brutos e idade mental, comunicação, AVDs, socialização e habilidades motoras. O único parâmetro que não sofreu mudanças significativas foi o HKBABS. No grupo controle houve diferenças significativas positivas do pré para o pós teste escores do PEPR, Merril Palmer escores brutos e idade mental, comunicação, AVDs, socialização, habilidades motoras e HKBABS (Tsang , Shek, Lam, Florence , Tang & Cheung, 2007).

Os estudos demonstram resultados positivos da metodologia TEACCH. É importante considerar as limitações dos estudos e as dificuldades de realizá-los. A maioria dos estudos tem uma amostra pequena isso se dá pela necessidade de parear a amostra por diferentes características das crianças como o QI , gênero. Os estudos com amostras maiores muitas vezes têm dificuldades na seleção do grupo controle. Embora os resultados sejam positivos é muito difícil comparar metodologias afim de investigar qual a mais eficiente. A metodologia TEACCH é amplamente utilizada com bons resultados e é uma boa opção de tratamento entre tantas outras.
Concluindo as intervenções devem ser centradas nas potencialidades e necessidades de cada criança respeitando sua individualidade. Os pais são importantes aliados para o sucesso da intervenção, portanto é fundamental não apenas informa-los, mas instrumentaliza-los para potencializar o desenvolvimento da criança. As abordagens múltiplas e o trabalho em equipe são benéficas para o desenvolvimento da criança.