No mundo civilizado em que vivemos onde há cada vez menos espaços para nos movimentarmos, limitados muitas vezes por apartamentos, grades e violência nas ruas, as crianças estão se tornando carentes de movimentos. Além da falta de espaço, outro fator que contribui com a inatividade das crianças são as facilidades que a tecnologia nos proporciona com computadores, elevadores e controles remotos.
Alguns autores, como Marcelino (1990, apud DARIDO & FARINHA, 1995), salientam que a infância deve ser marcada pela falta de compromisso e obrigações. Porém, no mesmo trabalho, Bento (1991) afirma que o problema de uma sobrecarga em uma atividade física é menos perigoso do que a falta de exigências e preocupação excessiva em querer proteger a criança. Vargas Neto (1999) aponta que a falta de estímulos aos jogos infantis, bem como menor esforço físico e espaço diminuído, contribui para a “degeneração hipocinética”. Esta doença é caracterizada pela diminuição da capacidade funcional de vários órgãos e sistemas. O mesmo autor salienta ainda que estímulos inadequados tornam as crianças preguiçosas e acomodadas ocasionando deformações da coluna vertebral.
A prática esportiva sistemática pode contribuir positivamente para o desenvolvimento do ser humano. Fisicamente observam-se benefícios como a melhoria da aptidão física relacionada à saúde e o desenvolvimento das capacidades físicas, fundamentais para a formação de futuros atletas. Nos aspectos psicológicos e sociais podem ser observados benefícios como a cooperação, a socialização, a melhoria da auto-estima e a disciplina. No entanto esta prática sistemática apresenta-se ineficiente dentro da escola.
No trabalho de Guedes & Guedes (1997) os autores analisaram, entre outros propósitos, o nível de intensidade dos esforços oferecidos durante as aulas de educação física para relacionar com objetivos direcionados à promoção da saúde. O estudo foi realizado em Londrina, Paraná, em 15 diferentes escolas utilizando-se como instrumento a observação direta. A conclusão foi de que se perde tempo excessivo na organização e transição das atividades, o que ocasiona poucas oportunidades para a participação efetiva em atividades que resultem em ganhos no desenvolvimento e aprimoramento da aptidão física. Neste sentido Valentini (2002) afirma que se crianças e jovens não participarem de atividades físicas vigorosas durante esta fase, que produzam ganhos efetivos na aptidão física ou otimização das habilidades motoras esportivas, não irão incorporar a prática esportiva na vida adulta.
Somam-se ainda outros estudos que corroboram o de Guedes & Guedes (1997) concluindo que estudantes de diversas faixas etárias, inclusive adultos, na sua maioria não atingem níveis maduros de desenvolvimento nas habilidades motoras fundamentais (PELLEGRINI & CATUZZO, 1991; MANOEL, 1994; ISAYAMA E GALLARDO, 1998; SURDI & KREBS, 1999; COPETTI, 2000; ZANON & ROCHA, 2000).
A não aquisição de habilidades motoras fundamentais pode acarretar sérios problemas na aquisição de habilidades mais específicas e importantes para o dia-a-dia (MANOEL, 1994). A educação física escolar tem grande relevância no desenvolvimento destas habilidades podendo ser auxiliada por uma modalidade que desenvolve uma gama de habilidades e capacidades motoras, como por exemplo, a ginástica olímpica (GO).
A GO é considerada como esporte de base em muitos países como por exemplo a Alemanha, berço deste esporte. Para Leguet (1987) seus fundamentos são ações motoras básicas para o desenvolvimento humano podendo ser praticada por crianças a partir de dois anos de idade em escolas, academias, clubes e universidades (SCHELEGEL & DUNN, 2001). Esta modalidade traz benefícios no desenvolvimento motor de diversas habilidades e proporciona aos seus praticantes situações diferenciadas do seu cotidiano como rolar, saltar, girar no ar com diferentes eixos de rotação, equilibrar-se, pendurar-se e balançar-se. Somando-se a uma prática variada dentro da GO, pode-se obter ganhos significativos no desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais sendo um “trampolim” para o aprimoramento de habilidades específicas relacionadas ao esporte.
1.1) Justificativa
A GO pode ser implementada como um meio facilitador de desenvolvimento de diversas capacidades e melhoria da aptidão física. Um programa de GO diversificado pode igualmente auxiliar no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais.
Diversos treinadores de GO ressaltam a facilidade com que as atletas desta modalidade esportiva se movimentam. Dentro de um ginásio de ginástica é fácil verificar que se locomovem e se equilibram com adequação, o que também é observado nas brincadeiras de roda, com e sem bola, onde se pode admirar a noção viso-motora e espaço-temporal das ginastas.
Quando se misturam atletas e não-atletas nas aulas de educação física fica mais visível a diferença entre um grupo e outro. Os ginastas conseguem se expressar acima dos padrões esperados para qualquer atividade. Eles tornam-se “...os goleadores em jogos de futebol, os cestinhas no basquete, os medalistas no atletismo e em muitas outras modalidades esportivas...” (NISTA-PICCOLO, 2005, p. 30).
Foi com base na literatura e em anos de observação que surgiu a motivação para investigar as habilidades motoras fundamentais de atletas de GO. Assim, o tema central deste trabalho pode ser sintetizado na questão: será que as ginastas possuem níveis de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais similares aos dos estudantes brasileiros?
1.2) Por que avaliar?
Avaliar é imprescindível em qualquer nível de atividade seja em escolares, praticantes de qualquer modalidade esportiva, iniciação à competição ou alto rendimento. É através dela que observa-se e analisa-se aspectos como o nível de desenvolvimento em que se encontram os alunos. Além disso, é uma maneira de motivá-los e ainda uma forma de verificar a consistência do trabalho de técnicos e professores. Com base nos resultados obtidos em diferentes avaliações pode-se fazer ajustes pertinentes para um melhor desenvolvimento, sendo os instrumentos utilizados bem como os critérios que serão adotados diferentes em cada contexto.
O processo avaliativo, dentro da ginástica olímpica se dá basicamente em duas direções: a avaliação física e a avaliação técnica. O aspecto motor, referente às habilidades motoras fundamentais, não é em geral avaliado.